A Ucrânia mudou sua estratégia na guerra que já dura mais de três anos e passou a mirar de forma sistemática, nos últimos meses, o setor energético da Rússia.
Desde julho, ataques ucranianos com drones contra refinarias e oleodutos russos reduziram em até 17% a capacidade de refino do país, segundo a Oxford Analytica, pressionando a economia do país liderado pelo ditador Vladimir Putin e obrigando o Kremlin a suspender exportações de gasolina e impor restrições ao diesel até o fim deste ano.
“O novo padrão de ataques representa a campanha mais sustentada até agora contra a base econômica da Rússia”, avaliou Richard Connolly, analista sênior da Oxford Analytica. Para ele, a pressão “diretamente mina a narrativa de estabilidade do Kremlin e amplia os custos fiscais em um momento de gastos militares recordes”.
O impacto interno dos ataques ucranianos contra este setor já é visível. De acordo com a agência Reuters, regiões como o Extremo Oriente russo e a Crimeia ocupada ilegalmente já enfrentam filas em postos de combustível e racionamento de até 30 litros por motorista. Em Sevastopol, a maior cidade da península da Crimeia, metade das bombas de gasolina estão fora de operação.
A emissora CNN relatou que só no mês de agosto os ataques ucranianos danificaram grandes refinarias russas nas cidades de Volgogrado, Saratov e Rostov, que juntas respondiam por mais de 44 milhões de toneladas anuais de derivados de petróleo, como gasolina, diesel e querosene de aviação – mais de 10% da capacidade nacional.
“Infelizmente, nossa previsão é desfavorável por enquanto – provavelmente teremos de esperar pelo menos mais um mês para os preços [dos combustíveis] caírem”, afirmou Sergey Frolov, sócio da consultoria energética NEFT Research, ao jornal russo Kommersant, em referência à alta da gasolina e do diesel no mercado interno russo.
O governo do presidente Donald Trump, nos EUA, autorizou recentemente, segundo a agência Reuters, o repasse pela primeira vez de inteligência detalhada a Kiev sobre alvos energéticos em solo russo. A medida, relatada inicialmente pelo jornal The Wall Street Journal, tem como objetivo ampliar a capacidade ucraniana de atingir refinarias, oleodutos e estações de bombeamento da Rússia.
Moscou já reconhece este cenário. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse recentemente que o “uso da infraestrutura de inteligência da Otan e dos Estados Unidos para apoiar os ataques ucranianos [contra alvos russos] é óbvio”. Autoridades russas afirmam que, apesar da crise causada pelos ataques da Ucrânia contra suas refinarias, as forças armadas do país seguem abastecidas de diesel e querosene, combustíveis estratégicos para a guerra.
Especialistas ressaltam que a campanha ucraniana contra o setor energético russo pode se tornar o ponto de maior desgaste econômico para Moscou desde 2022. Mick Ryan, analista militar australiano ouvido pela CNN, afirmou que cada ataque bem-sucedido da Ucrânia contra refinarias “causa muito mais dano do que as armas atuais” que o país possui para combater as forças russas em seu território. Para Ryan, os ataques também aumentam a “dificuldade de defesa russa”.
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