Falta alguém na seleção que, nas horas ruins, ponha a bola embaixo do braço, converse e acalme o time.
Didi fez assim quando, na final da Copa do Mundo de 1958, ao sofrer o 1 a 0 dos anfitriões suecos, pegou a bola no fundo da rede e, ao levá-la para dar nova saída, avisou a turma no caminho que não tinha ido até lá para perder.
Por óbvio, não temos ninguém como ele no meio de campo, nem também como o líder que bote a casa em ordem.
Quem viu a seleção brasileira ser campeã mundial, aos 8 anos de idade, fica inconformado.
Ainda mais se viu ser bicampeã aos 12, tri aos 20, tetra aos 44 e penta aos 52.
Em Tóquio, repetiu-se como farsa o jogo contra a Coreia do Sul, em Seul.
Um razoável primeiro tempo, não comparável ao ótimo contra os sul-coreanos, e um segundo tempo desastroso contra os nipônicos, que não baixaram a guarda, ao contrário, mesmo perdendo por 2 a 0.
Eles partiram para a primeira vitória contra os brasileiros em 14 jogos —e se aproveitaram da atuação lamentável do zagueiro cruzeirense Fabrício Bruno e menos, mas nem tanto, do goleiro corintiano Hugo Sousa.
Fabrício entregou o primeiro gol de presente e cortou contra a rede brasileira no segundo.
Hugo aceitou o terceiro em bola em cima dele e quase marcou ele mesmo o quarto. É incrível que Cláudio Taffarel, ex-goleiraço e treinador de goleiros da seleção, não perceba que o corintiano não está pronto para tamanha responsabilidade, a não ser que seja convocado só para pegar pênaltis.
Fabrício Bruno ainda pode ser perdoado e talvez até deva, para não implantar o terror típico de ambientes nos quais é proibido errar. Hugo precisa amadurecer.
Deve-se dar o desconto de apenas três titulares em Seul terem iniciado o jogo em Tóquio, além da decepcionante atuação de Luiz Henrique. Testes são para isso mesmo.
O que fica cada vez mais claro, e talvez nem Carlo Ancelotti possa resolver, é o tempo desperdiçado pela CBF desde o fim da Copa do Mundo no Qatar.
Dos poucos que se salvaram no tsunami japonês, ao lado de Paulo Henrique, o lateral-direito do Vasco, e Bruno Guimarães, o volante do Newcastle, Casemiro mais uma vez compareceu para dizer o óbvio, como já fez tantas vezes: apagões custam caro, seja em amistosos, seja em copas América ou do Mundo.
De tudo fica a constatação, recorrente nas últimas duas décadas, de que quando surge uma onda de otimismo logo vem uma tempestade para afogar de mágoas o torcedor.
É grave perder a invencibilidade para o Japão?
É e não é.
É, porque o passado da seleção fica cada vez mais no passado. Não é, porque até para Honduras a seleção perdeu numa Copa América e ganhou a Copa do Mundo em seguida, exatamente no Japão.
Por outro lado, negar que a derrota sirva para incentivar o desrespeito à amarelinha é bancar o avestruz.
Afinal, em passado nem muito distante, ser japonês no futebol era anedota.
Se é óbvio que todos evoluíram no Planeta Bola, fica pra lá de desagradável projetar um futuro em que alguém diga sermos brasileiros no ludopédio.
Levar virada com dois gols de vantagem não acontecia havia 85 anos, como Luís Curro pesquisou.
Respeito é bom e a gente gosta, mas é preciso se dar ao respeito.
Com a CBF acima de tudo?
Tsk, tsk, tsk…
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