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sexta-feira , 31 outubro 2025
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IA pode provocar “tsunami” de desemprego


Mais do que uma mera onda de modernização e inovação, a revolução tecnológica que está em curso, protagonizada em grande parte pelos avanços da inteligência artificial (IA), se traduz em uma “quebra estrutural” na economia comparável à Revolução Industrial. Uma das consequências é uma onda de desemprego que irá atingir a todas as camadas da sociedade, incluindo a classe média.

Quem faz o alerta é o economista e ex-ministro Adolfo Sachsida no e-book Princípios de economia e os desafios da inteligência artificial: a economia na era do preço zero, exclusivo para a Gazeta do Povo (o livro é gratuito. Clique aqui para baixar o texto completo).

No governo de Jair Bolsonaro (PL), Sachsida chefiou a Assessoria Especial de Estudos Econômicos do Ministério da Economia e depois comandou o Ministério de Minas e Energia.

Em seu livro, Sachsida defende que falhas de governo causadas por intervenções mal-sucedidas no mercado são mais danosas que as estruturais, inerentes ao próprio mercado.

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No entanto, em face da quebra estrutural da atual revolução tecnológica e do poder disruptivo das transformações em curso, o autor acaba por defender que a intervenção estatal é e será necessária, e que deve ser implementada no curto prazo, a partir de ajustes em políticas educacionais e assistenciais.

Na avaliação de Sachsida, diferentemente das ondas tecnológicas anteriores, a onda da IA deverá impactar severamente o mercado de trabalho em um curto intervalo de tempo, gerando amplo desemprego que irá atingir tanto a população com baixa qualificação quanto segmentos profissionais altamente qualificados. Um verdadeiro tsunami.

O noticiário não deixa de corroborar as advertências do economista: o jornal americano The New York Times teve acesso a documentos de uma das gigantes tecnológicas, a Amazon, nos quais a empresa prevê a substituição de cerca de 500 mil funcionários seus por automações nos próximos anos.

Revolução da IA é comparável à Revolução Industrial

No livro, Sachsida afirma que o impacto da revolução tecnológica ou da IA é comparável somente ao da primeira Revolução Industrial, entre 1760 e 1850, na Inglaterra. O economista explica que, naquele período, as máquinas a vapor substituíram uma parcela expressiva dos trabalhadores da indústria, que tiveram grande dificuldade em encontrar recolocação profissional.

E, embora os parâmetros inovadores de produção tenham resultado em um aumento considerável no padrão de vida e bem-estar no longo prazo, com crescimento do PIB e da expectativa de vida da população, o período de transição gerou custos de adaptação severos.

E o alerta agora não é diferente. A incapacidade de realocar um grande contingente de pessoas em um curto espaço de tempo é, possivelmente, o “calcanhar de Aquiles” da revolução da IA, e suas transformações tendem a afetar amplos segmentos da população em todos os níveis.

Ocupações sofrem risco de substituição, gerando desemprego

Ao contrário do que ocorreu nos últimos 50 anos, quando as perdas de emprego por tecnologia foram pontuais e compensadas por aumentos em outros setores, Sachsida sustenta que a revolução tecnológica liderada pela IA tende a gerar desemprego de forma generalizada.

Tarefas que podem ser executadas de maneira repetitiva e padronizada, ou que seguem padrões definidos ou procedimentos estruturados, serão fortemente afetadas em um curto intervalo de tempo.

O economista defende que o impacto será sentido em ocupações tanto de alta quanto de baixa qualificação:

• Profissionais liberais e de alta qualificação: advogados, economistas, contadores, programadores e professores. Por exemplo, empresas que antes mantinham vários advogados poderão precisar apenas de um pequeno núcleo, responsável por monitorar e aprimorar as tarefas executadas pela IA.

• Segmentos da classe média-baixa: porteiros, secretárias, motoristas e atendentes. Um exemplo citado pelo autor é a expectativa de que o mercado de portarias de edifícios passe a ser atendido por serviços online, reduzindo as oportunidades de emprego para porteiros.

• Setores específicos: o mercado de escolas de idiomas, tradução de textos e dublagem de filmes deverá encolher significativamente devido à capacidade da IA de realizar traduções simultâneas em tempo real. O mercado financeiro também enfrentará desafios, com grande redução no número de empregados em ocupações como caixas de bancos, atendentes, seguranças e gerentes de agências físicas.

Onda de inovação é acelerada por conjunção tecnológica

Segundo o autor, como as ondas — ou tsunamis — de inovação eliminam diversas ocupações rapidamente resultando em amplo desemprego, o tempo disponível para acomodar tais mudanças é relativamente curto.

Basta considerar a evolução das aplicações de IA: a primeira versão gratuita do ChatGPT foi disponibilizada em novembro de 2022 e o GPT-5, em agosto deste ano. O Grok 1.0 foi anunciado em novembro de 2023, e a versão 3.0, em fevereiro deste ano.

E a IA não está agindo de forma isolada. Ela está sendo potencializada pelo barateamento de hardware (como computadores, câmeras e drones) e por saltos tecnológicos em softwares (melhoria no processamento de imagem e na velocidade de processamento de grandes bancos de dados).

Essas combinações fazem com que, cada vez mais, os processos de automação anteriormente inviáveis se tornem economicamente viáveis.

Impactos da transição demandam ajuste em políticas públicas

Segundo Sachsida, frente ao risco de perda em larga escala de empregos e à potencial queda no bem-estar de amplos segmentos da sociedade, os governos precisam estar atentos e buscar formas de mitigar os impactos mais severos da revolução da IA.

É uma situação na qual uma falha de mercado levaria a uma necessária intervenção do governo, já que a incapacidade de realocar um grande contingente de pessoas em um curto espaço de tempo pode gerar tensões sociais de difícil contenção.

Frente ao desemprego, renda universal seria uma solução

Sachsida, então, defende que é fundamental modernizar e adequar políticas educacionais e assistenciais para fazer frente a essa revolução tecnológica.
Uma possível solução abordada pelo autor para lidar com o choque negativo na demanda por mão de obra e no consequente desemprego seria a adoção de um sistema de renda básica universal (RBU).

Mesmo diante de possíveis falhas de governo, a medida seria adequada à nova era, pois ajudaria a reduzir os grandes custos de ajustamento de curto prazo. A urgência na adoção dessas estratégias visa a criar o tempo necessário para que as pessoas e as famílias possam se ajustar à nova realidade.



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