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quinta-feira , 30 outubro 2025
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Acordo EUA-China pode afetar mais agro brasileiro do que tarifaço


O anúncio nesta quinta-feira (30) de um acordo entre Estados Unidos e China, que inclui a retomada de compras de soja americana pelo país asiático, pode ter um impacto negativo para o agro brasileiro maior do que o tarifaço imposto pelo presidente Donald Trump sobre produtos importados do Brasil.

Trump disse a jornalistas que “quantidades enormes de soja” dos EUA serão compradas imediatamente pela China. “Estamos de acordo em muitos pontos, grandes quantidades, quantidades enormes de soja e outros produtos agrícolas serão compradas imediatamente, a partir de agora”, disse a bordo do Air Force One, após deixar Busan, na Coreia do Sul, onde se econtrou com o líder chinês. Xi Jinping.

Com o acirramento da disputa comercial entre os países neste ano, os chineses haviam suspendido totalmente a compra de soja dos EUA, o que acabou beneficiando diretamente o Brasil, principal concorrente dos americanos no fornecimento da oleaginosa para o mercado global.

A consequência direta foram sucessivos recordes mensais nas exportações brasileiras da commodity, impulsionados pela demanda da China, maior importador mundial de soja. Com a reaproximação entre EUA e China, o agro brasileiro perde esse impulso.

Tarifaço dos EUA sobre o Brasil não teve tanto impacto sobre o agro, diz pesquisador

O professor sênior e coordenador do Insper Agro Global, Marcos Jank, Jank explica que a sobretaxa americana – de 40%, além dos 10% já cobrados sobre exportações do Brasil – não chegou a ter grande impacto como inicialmente se esperava.

“A celulose já saiu no começo [da lista de produtos taxados], o suco de laranja também. A carne bovina, o Brasil está aumentando muito a exportação para a China e outros mercados, enquanto eles [americanos] estão em um momento de crise enorme, com preços altíssimos. O café também está com preços historicamente altos”, enumera. “Então, se você olha sob a óptica do produtor, não houve tanto impacto”, avalia.

Ele ressalta que, embora alguns setores tenham sido mais afetados do que outros, o conjunto de produtos que o agro brasileiro vende para os americanos representa pouco na balança comercial em comparação com a soja enviada ao mercado chinês. É por isso que a retomada das compras chinesas do grão americano tende a ser mais prejudicial ao agro brasileiro que o tarifaço em si.

As exportações de produtos agropecuários para os Estados Unidos geraram em receita US$ 12,1 bilhões para o Brasil no ano passado, uma fatia de pouco mais de 7% dos US$ 164,3 bilhões das vendas externas totais do setor, segundo dados dos ministérios da Agricultura e Pecuária (Mapa) e do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).

Somente com a soja, o Brasil para a China faturou US$ 31,5 bilhões em 2024, o equivalente a 19,2% de todos os embarques do agro para o exterior.

“Temos que acompanhar o acordo dos Estados Unidos com a China. Eles também estão negociando com a Europa, com a Índia, com vários outros países, e esse conjunto de acordos que podem sair pode ter impacto, sim, sobre o agro brasileiro”, ressalta Jank.

“Se voltar a situação pré-2017, quando a tarifa era zero para Brasil, Estados Unidos e Argentina, volta aquela história que em uma parte do ano eles [chineses] compram na América do Norte, e em outra parte do ano, compram na América do Sul. Isso é ótimo para a China, porque ela não tem que fazer estoque”, explica.

“Agora, se surge algum mecanismo que privilegia a soja americana em detrimento da nossa, aí é muito ruim”, prossegue.

Marcos Jank, do Insper Agro Global: “Temos que acompanhar o acordo dos Estados Unidos com a China”Marcos Jank, do Insper Agro Global: “Temos que acompanhar o acordo dos Estados Unidos com a China” (Foto: Jefferson Eduardo/Balbino Agro Filmes)

Produtores de soja brasileiros aproveitaram suspensão de compra de soja dos EUA pela China

“Eu sempre falo que a primeira guerra tarifária entre Estados Unidos e China já foi muito favorável a nós”, diz o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Mato Grosso (Aprosoja-MT), Lucas Beber.

“O Brasil ampliou as exportações para China e nós tivemos um grande boom de demanda de soja brasileira. Novamente isso está se repetindo. O problema são as especulações sobre um acordo [entre Pequim e Washington], o que faz oscilar o mercado”, conta.

Mato Grosso é o principal produtor de soja no Brasil, responsável por mais de 30% da safra nacional e mais de 25% das exportações do país neste ano, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).

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Beber explica que a situação ajudou o sojicultor, uma vez que o custo do crédito rural tem pesado cada vez mais no orçamento, o que tem feito com que os produtores do estado estejam reduzindo o uso de insumos, especialmente fertilizantes.

“Nos últimos três meses, a China tem batido o recorde de importação mês a mês, por não estar havendo negócios com os Estados Unidos”, comenta o presidente da Aprosoja-MT. Além disso, explica, quanto mais o acordo demorou para sair, mais os preços brasileiros se descolaram da bolsa de Chicago, aumentando os prêmios no mercado interno.

Com o acordo firmado entre Trump e o líder chinês Xi Jinping, e a retomada do fluxo comercial da oleaginosa entre os países, essa tendência deve sofrer uma quebra.

*O jornalista viajou a convite do Instituto Mato-grossense da Carne (Imac)

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