Desculpa esfarrapada é pouco: o julgamento do recurso do Flamengo sobre a suspensão de Bruno Henrique, por apenas 12 jogos, acabou cancelado no Superior Tribunal de Justiça Desportiva.
A alegação para o adiamento é de cinismo atroz: insegurança na cidade do Rio de Janeiro devido ao morticínio na terça-feira (28).
Só que o julgamento estava marcado para a quinta-feira, e, na quarta, o Fluminense jogou contra o Ceará, no Maracanã, com 12.700 torcedores presentes.
Ou seja, deslocamento de uma multidão podia, mas a ida de nove auditores à sede do STJD, no centro do Rio, no 10º andar do número 55 da rua Uruguaiana, edifício Sloper, em cima da loja de departamentos Leader, não pode.
Não é extraordinário?
Recapitulemos: Bruno Henrique não é exatamente um cidadão exemplar. Longe disso.
Em 2020, recusou-se a submeter-se ao bafômetro e apresentou carteira de motorista falsa.
Processado por falsidade ideológica, confessou o crime e, em abril de 2022, fez acordo de não persecução penal com a Justiça e pagou multa no valor de R$ 100 mil.
Depois, como se sabe, forçou cartão amarelo para beneficiar apostadores de suas relações, o irmão inclusive.
Após longo e tenebroso inverno, quase dois anos, acabou condenado por fraude esportiva e pegou pena mínima de 12 jogos —por si só privilégio de que jamais um atleta de clube pequeno desfrutaria ou desfrutará.
Pegou, mas não cumpriu.
Imediatamente a Gávea pediu efeito suspensivo, e BH desfila impunemente pelos gramados do Brasil e da América do Sul.
Quando se esperava que, enfim, na semana passada, a farsa tivesse fim com o julgamento definitivo do recurso rubro-negro, mais uma vez a tal da Justiça esportiva revelou até que ponto é capaz de ser cínica e hipócrita: cancelou o julgamento sem nova data agendada.
Se duvidar, a sentença definitiva ao fraudador BH ficará para quando ele for avô exemplar.
Registre-se que, além de estar à espera de julgamento por estelionato na Justiça comum, BH também foi denunciado pelo Ministério Público do Distrito Federal por supostas manipulações até em corridas de cavalos.
Como joga no Flamengo, pode tudo. E, como fez dois gols no Sport, no último sábado (1º), pode ainda mais, está redimido diante da Nação e da mídia complacente e muda.
Seria igual caso jogasse em quaisquer outros de nossos clubes grandes. Ou a Fiel não tem o nota de três dólares Marcelinho Carioca como ídolo até hoje? E quantos santistas permanecem fãs de Robinho, o estuprador?
Tudo isso para dizer que urge acabar com a palhaçada da Justiça esportiva, de implantar rito sumário nas questões que envolvam as regras do esporte, para que a população não descreia ainda mais dos conceitos de Justiça.
E não é de hoje que é assim.
Em 1974, o genial Roberto Rivellino chutou o bandeirinha e pegou gancho de apenas cinco jogos, o tempo exato para poder jogar as finais do Campeonato Paulista, contra o Palmeiras, de triste memória para a Fiel e para ele, objeto de duas injustiças: a do tribunal e, depois, da torcida que o culpou pelo 20° ano de fila.
Como na Justiça comum no Brasil, quem tem padrinho não morre pagão.
O governador Cláudio Castro (PL) deveria ter sido preso em flagrante e virou herói para muita gente.
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