Tenho um bom contato na comunicação da Bundesliga, a organizadora do Campeonato Alemão, e periodicamente sou convidado a participar de entrevistas com personagens selecionados.
Na semana passada, foi Danilo de Souza, 41. Conhece? Suponho que não.
Paulistano, meia ofensivo, atuou nas categorias de base do Corinthians e se aventurou cedo no futebol europeu, fincando raízes na Alemanha, onde jogou em divisões inferiores, encerrando a carreira com 30 e poucos anos.
“Não fui um grande jogador”, reconheceu. “A partir do dia em que não pude mais jogar profissionalmente, tinha que trabalhar. Usei tudo que aprendi na carreira jogando para suportar [sic] depois.”
Mirou então uma área à qual raríssimos ex-jogadores brasileiros se direcionam no exterior: técnico. Fluente em alemão, fez cursos teóricos da federação local, criando uma rede de relacionamentos.
Longo tempo na Alemanha, domínio do idioma, perfil integrador e enfoque em questões táticas lhe abriram portas, e Danilo passou a atuar como assistente técnico. Esteve, a partir de 2017, no Paderborn, no Osnabrück e no Arminia Bielefeld.
De 2023 a 2025, acumulou experiência na Inglaterra, auxiliando Daniel Farke no Leeds United, na segunda divisão.
Nesta temporada, mesmo tendo o Leeds subido, optou por regressar à Alemanha e voltar a trabalhar com Steffen Baumgart, técnico que lhe deu a primeira oportunidade em uma comissão, oito anos atrás.
Ao falar na entrevista sobre seu dia a dia, chamou-me atenção a ênfase dada à necessidade que o assistente técnico tem de se mostrar maleável, mutante. “Tem que ser como um camaleão, fazer o trabalho que no momento é necessário.”
Isso em diferentes frentes, que vão além da técnica e da tática. Há a parte mental. “Tem que ser psicólogo às vezes”, para conversar com “jogador que está desapontado porque não joga, outro que está jogando mal”.
Para Danilo, é vital saber se adaptar ao plantel, aos jogadores disponíveis e ao que eles podem oferecer, abrindo mão de conceitos predefinidos.
“O trabalho como treinador é fazer o plantel jogar o melhor futebol que eles [atletas] podem, e às vezes o melhor futebol é o contrário daquilo que eu desejo. Com o passar dos anos, aprendi a ser mais flexível nas ideias.”
O exemplo de “camaleonismo” vem dele mesmo. “Gosto de ver times sendo protagonistas, atacando.” No Union Berlin, contudo, o elenco não está apto a isso. “A gente passa a maior parte do tempo defendendo.”
Gostei do bate-papo com Danilo. Articulado, lúcido, focado, com ótima leitura macro do futebol, e com um detalhe perceptível: “caçou” algumas palavras em português, certamente devido à falta de prática pelo período prolongado longe do Brasil, falando outras línguas.
Ele almeja um dia ser treinador principal, e está fazendo o último curso exigido para poder atuar nas grandes praças da Europa.
Seria fantástico um brasileiro dirigindo um clube de uma liga europeia de ponta, o que foi visto pouquíssimas vezes. Entre os que chegaram lá, Vanderlei Luxemburgo (Real Madrid, em 2005) e Luiz Felipe Scolari (Chelsea, em 2008).
E por que não em um clube daqui? Danilo está aberto a convites de times brasileiros. “Faz muito tempo que não vou ao Brasil. Seria um prazer estar em casa de novo.”
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