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Brasileira vai ao Mundial de taekwondo como número 1



RIO DE JANEIRO, RJ E SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Na agenda da pequena Maria Clara Pacheco tinha aulas de capoeira, jazz e balé. Ela gostava de praticar e se dedicava às atividades, mas faltava ação, pode-se assim dizer. “Queria fazer alguma arte marcial”, conta. A chegada ao taekwondo foi sem querer, mas a trajetória até aqui, não.

A menina, que mostrou ser decidida desde nova, viu a família fazer bingos e empréstimos para seguir a caminhada no esporte, e hoje chega ao Mundial como líder do ranking, e com objetivos a alcançar neste começo de ciclo para os Jogos Olímpicos de Los Angeles. A tatuagem de Nike, Deusa grega da vitória, com anéis olímpicos, à mostra no braço direito, dá uma amostra disso.
A brasileira, neste cenário, chega à China como uma das postulantes ao título. O torneio, que começa nesta sexta-feira (24), vai até dia 30.

“Ser a líder do ranking tem o lado positivo e o negativo. A liderança impacta no chaveamento, e acaba tendo uma luta a menos. Ajuda na parte emocional, de confiança, na parte técnica e tática pelo fato de já ter enfrentado grande parte das meninas. O lado ruim é que chego com a mais visada, vão querer a minha cabeça (risos)”

“Esse é um campeonato que estou sonhando desde 2023. Acredito que estou bem preparada, estou em um ano bom. Sinto que, a cada competição, estou evoluindo. As meninas vão querer a minha cabeça. Entendo as dificuldades, mas entendo que eu tenho condições e que, fazendo tudo certinho, posso ter alguma chance de brigar pelo topo do pódio”.

MUDANÇAS APÓS PARIS

O bom desempenho em 2025, na avaliação de Maria Clara, teve início com a frustração nos Jogos Olímpicos de Paris, no ano passado, quando foi eliminada nas quartas de final, após derrota para a chinesa Luo Zongshi.

Mesmo que o adeus tenha sido diante da então número 1 do mundo, o desempenho foi aquém do esperado, e a atleta voltou ao Brasil determinada a mudar a rota. Atualmente, ela treina na Team One, com José Carlos Figueiredo Coelho Junior.

“Desde os Jogos Olímpicos, tive várias mudanças. Eu tive um momento que me senti estagnada ali em 2023. Tinham lutas que, independentemente de estratégia, do treino, da condição física, eu não tinha condições de ganhar porque não estava preparada. Depois de Paris, vi que precisava mudar, tinha muito a melhorar e que se me mantivesse daquela forma, não ia conquistar coisa alguma”, começou.

“Mudei meu treinador, mudei meu preparador físico, comecei a trabalhar com uma fisioterapeuta nova. Houve alterações na equipe multidisciplinar que trabalha por trás. Toda a parte técnica ali mudou. Estamos seguindo outra linha de treino, outra linha tática, e acredito que estou melhor, mais bem condicionada para aguentar essa quantidade de lutas e eventos seguidos”, completa Maria Clara.

‘SEMPRE GOSTEI DA PORRADA’

O início de Maria Clara no taekwondo foi sem querer. O desejo inicial era praticar caratê, influência dos desenhos e séries que assistia à época, mas acabou seguindo o grupo errado, literalmente.

“Vi um pessoal com uma roupinha branca a caminho de um treino. Acreditava que era um quimono de caratê e os segui para ver onde treinavam. Mas era dobok [roupa do taekwondo]. Chegando, perguntei ao mestre: ‘aqui é caratê?’. Ele disse que era taekwondo, mas que eu podia fazer uma aula experimental”, conta.

Maria Clara foi ao tatame e sentiu um “amor ao primeiro chute”. Logo encontrou o elemento que sentia falta nas atividades anteriores.

“Eu fiz a aula, gostei e não saí mais. Fiquei e comecei a tomar gosto pelas competições, pelos treinos. Larguei capoeira, jazz, balé… Gostei muito de chutar, foi algo que, logo no primeiro treino, me conquistou. Diria que sempre gostei da porrada, era o que sentia falta na capoeira, por exemplo. Não tinha contato, meu pé não batia em alguma coisa, minha mão não chegava em alguém”, lembra.

Apesar de, naquele momento, ter escolhido focar no taekwondo, levou consigo uma herança das outras atividades que a ajudaram na luta.

“[O taekwondo] Tem chutes semelhantes ao da capoeira, algumas técnicas parecidas. Estava acostumada a chutar alto. A movimentação do balé é totalmente diferente, mas me ajudou muito na flexibilidade. Desde pequena tinha de fazer a abertura na aula. Quando cheguei ao taekwondo e precisei chutar alto, foi um pouco mais fácil”, ela rememora.

Natural de São Vicente, ela se mudou para São Caetano em 2021, quando fez 18 anos. “Sempre fui muito no sentido de que, quando decido alguma coisa, está decidido. Foi assim para ir para São Caetano. Fui para uma competição na final de 2021, depois de um ano de dedicação para bater peso, voltando de outra categoria e indo para uma que era mais rápida. Perdi na primeira luta e foi o que eu precisava. Eu precisava de mais trabalho. Voltei dessa viagem, falei com algumas pessoas e avisei à minha família que ia morar em São Caetano”.

FUGIU DO REGIME, MAS…

Às vésperas do Jogos de Paris, Maria Clara participou de um ensaio fotográfico para a capa da Revista Ela -em série sobre atletas que embarcariam para a capital francesa- e essa até que poderia ter sido a rotina profissional dela.

Bem antes do início no taekwondo, Maria Clara fez um teste para ser modelo mirim, e passou, mas desistiu por causa da dieta alimentar que teria de seguir.
“Eu fiz um teste de modelo, quando eu era mais nova, e passei. Eu iria pra São Paulo pra fazer um desfile com as agências e poder fechar um contrato. Só que o pessoal da equipe me deu algo tipo um manual das coisas que eu teria de seguir. Quando li a parte da dieta, que teria de comer bem… Eu era bem nova, gostava de comer besteira e falei para a minha mãe que não queria fazer dieta. Bati o pé e não quis continuar o processo”, compartilhou.

Quis o destino, porém, que, com a vida de atleta, ela tivesse de seguir uma alimentação regrada. “A curiosidade é que entrei no taekwondo e, em dois anos, com as competições, já tinha de estar fazendo dieta. Além disso, corte de peso com desidratação. Mas, pelo taekwondo, eu aceitei. Para ser modelo não”, lembra, com bom humor.

BINGOS E EMPRÉSTIMOS

Antes de ver Maria Clara na trilha das medalhas e títulos, a família organizou rifas e fez até empréstimo para conseguir os valores necessários para que ela se mantivesse no esporte.

“Meu pai sempre me apoiou a fazer esporte, mas, no começo, via como hobby e falava para seguir o caminho dos estudos. Ele não via o esporte como profissão. Minha mãe falava que, se era a minha vontade, iríamos fazer. Ela falava que a gente iria dar um jeito. Minha família tirou dinheiro de onde não tinha para eu continuar treinando e competindo. Contava moedas, fazia rifa, fazia bingo… Tudo para eu ter condição de lutar. Minha mãe sempre me passou essa confiança”, conta Maria Clara.

Aos poucos, a resistência do pai foi minando a cada nova conquista da filha, e um cenário mais promissor no taekwondo. Foi ele, inclusive, que pegou um empréstimo para que Maria Clara desse um novo passo na carreira.

“Tudo foi uma loucura. Conheço o esporte, passei por isso, mas, talvez, se não tivesse passado, não faria a loucura que minha mãe fez, não acreditaria tanto em alguém quanto minha mãe acreditou em mim. Eu não tive nenhum receio. Quando eu falei que ia para São Caetano, que achava que era o caminho que me faria bem, ela falou: ‘É nisso você acredita? Então tá bom’.

A essa altura, meu pai já entendia melhor, apoiava bastante a seguir a carreira. Foi ele, inclusive, quem pediu um empréstimo para que eu pudesse fazer um circuito na Europa. Ficou uma dívida enorme, mas valeu a pena. E já está tudo quitado (risos)”, ela conta.

DEBUTANTE E CAMPEÃ MUNDIAL

Como grande parte das adolescentes brasileiras, Maria Clara teve seu baile de debutante ao completar 15 anos. A diferença esteve, talvez, no fato de que ela celebrou essa espécie de ritual de passagem já com um pódio de Mundial no currículo. Quando tinha 14 anos, conquistou o bronze no Mundial Cadete. No pódio, além de colocar a medalha no peito, ganhou uma peça que se tornaria seu amuleto.

“É um faixa preta que ganhamos junto com a medalha. É mais uma faixa que é decorativa, veio dentro de uma caixinha. Achei muito bonita. Tinha sido uma conquista importante para mim e comecei a usá-la. Então, em todas as competições passei a usar e, depois disso, nunca mais consegui tirar. Ela é grande, pesada, não veste tão bem junto ao dobok, não é tão confortável, mas várias vezes já tentei trocar e, no aquecimento, batia aquela sensação que tinha de entrar com ela. Toda competição que eu vou, eu levo a minha faixa e só luto com ela”, ela diz.

 



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