“Vitórias inesperadas de clubes pequenos geram alegria coletiva porque restauram a ideia de que o futebol, ao contrário da maioria das instituições, ainda pode desafiar o poder e o dinheiro.”
Essa frase, do sociólogo britânico Richard Giulianotti no livro “Football: A Sociology of the Global Game” (Futebol: Uma Sociologia do Jogo Global), reflete a sensação de contentamento intenso que muitos fãs do esporte sentem quando um clube nanico triunfa.
Quantas vezes não me vi encantado com a campanha de uma equipe menor, com poucos recursos, que chamava atenção pela dedicação e pelo entusiasmo que pareciam ser suficientes para, como um Davi, derrubar os poderosos Golias?
Foi assim com Camarões, do goleiro N’Kono e do atacante Milla, na Copa da Espanha-1982, que parou na primeira fase sem perder nenhum jogo (três empates, incluindo um 1 a 1 com a depois campeã Itália), e na Copa da Itália-1990, ainda com Milla, superando na partida inaugural a Argentina de Maradona e só caindo nas quartas de final, diante da Inglaterra de Lineker, na prorrogação (3 a 2).
Foi assim com o São Caetano, do ABC Paulista, hoje por baixo depois de problemas judiciais e financeiros, que quase ganhou o Campeonato Brasileiro de 2000 e de 2001 e a Libertadores de 2002, sendo finalista nos três.
Foi assim com o Leicester no Campeonato Inglês de 2015/2016. Ainda não sei bem como, mas o artilheiro Vardy, que permaneceu no clube até este ano, e companhia ganharam, de forma convincente, a competição nacional de maior prestígio no planeta, superando potências financeiras como os Manchesters (City e United) e o Chelsea.
Um azarão se destacar no futebol é incomum. Mais incomum ainda é erguer um troféu. E, quando isso acontece, quem acompanha futebol se vê entorpecido de uma felicidade inexplicável… ou explicável?
Existe um fenômeno psicológico chamado Efeito Azarão, no qual se torce por quem tem pouca chance de vitória. A identificação com a zebra surge do desejo de que a superação de adversidades resulte em sucesso –algo muito presente no mundo, já que para a maioria nada vem de mão beijada. É o triunfo do fraco contra o forte, do pobre contra o rico, do zé-ninguém contra a celebridade.
Veja o caso do Mirassol, do interior de SP, equipe de menor valor de mercado no Brasileiro, que caminha a passos firmes para, em seu primeiro ano na elite, obter uma vaga na Libertadores. Quem não se maravilha com Reinaldo (“Kingnaldo”) e um punhado de desconhecidos driblando o improvável dia após dia?
Este texto, que trouxe lembranças futebolísticas e navegou superficialmente pelo terreno da sociologia e da psicologia, tem sua razão de ser: nesta semana, o Mjällby (pronuncia-se Miélbi), time de uma vila de pescadores (Hällevik) de cerca de 1.500 habitantes, conquistou o Campeonato Sueco, com uma única derrota em 27 partidas.
Sem medalhões, sem cartaz, sem ilusões. Com união, com esperança, com determinação. É o exemplo esportivo mais recente de alguém em situação de inferioridade, contra todas as probabilidades, chegar lá.
Mesmo a um oceano de distância, identifico-me com o pitico Mjällby. Próximo desafio: alcançar a fase de grupo da próxima Champions League. Se isso acontecer, Real Madrid, tremei!
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