O fundador americano de uma empresa de investimentos falida que já foi uma das maiores acumuladoras de clubes de futebol europeus foi acusado de fraude e outras infrações em uma denúncia tornada pública por promotores dos Estados Unidos na quinta-feira (16).
O acusado, Josh Wander, um empresário arrogante de Miami, atraiu escrutínio após comprar times de futebol em três continentes através da 777 Partners, uma empresa que ele cofundou. De acordo com a denúncia, revelada em um tribunal federal da cidade de Nova York, Wander fabricou documentos financeiros e fez alegações enganosas em um esforço para “fraudar credores e investidores” em até US$ 500 milhões (R$ 2,7 bilhões).
No total, Wander foi acusado de fraude eletrônica, fraude de valores mobiliários e conspiração para cometer cada um desses crimes.
Damien Alfalla, diretor financeiro da empresa, declarou-se culpado na terça-feira (14) de uma acusação não especificada e está cooperando com o governo, de acordo com um comunicado do FBI.
Separadamente, na quinta-feira, a SEC (a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA) processou Wander; Steven Pasko, cofundador da 777 Partners; e Alfalla. Também processou a 777 Partners e outra empresa fundada por Wander.
Separadamente na quinta-feira, a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC) processou Wander; Steven Pasko, cofundador da 777 Partners; e Alfalla. Também processou a 777 Partners e outra empresa fundada por Wander.
As acusações criminais e a ação da SEC foram apresentadas um ano após Wander quase adicionar um dos clubes mais históricos do futebol inglês ao portfólio de clubes de sua empresa.
A tentativa de Wander de comprar o time, Everton Football Club, despertou o interesse do mundo esportivo, da comunidade de investimentos e das autoridades. Em maio de 2024, um dos credores da 777 a acusou de administrar um esquema de fraude que já durava anos. Desde então, a operação britânica da empresa foi declarada falida pelo tribunal superior britânico, e seu principal negócio nos Estados Unidos foi colocado em recuperação judicial.
As acusações contra Wander encerram quase dois anos de crescentes acusações contra ele e sua empresa, que por anos fez afirmações ousadas sobre sua saúde financeira —anteriormente, alegou possuir US$ 10 bilhões (R$ 54,4 bilhões) em ativos— mesmo sendo perseguida por uma série de processos judiciais, falências corporativas e contas não pagas.
A denúncia de 17 páginas, publicada na quinta-feira, afirmou que muitas dessas alegações eram falsas.
“Para obter financiamento para as operações da empresa, por exemplo, Wander ofereceu mais de US$ 350 milhões (R$ 1,9 bilhão) em ativos como garantia a credores privados, sabendo que a 777 Partners ou não possuía as garantias ou já as havia oferecido a outros credores”, disse a acusação. Wander também foi acusado de usar dinheiro de credores para fins diferentes daqueles para os quais havia prometido usá-lo, incluindo a compra de participações em times de futebol e despesas relacionadas a uma companhia aérea deficitária.
“Esta é uma disputa comercial disfarçada de caso criminal”, disse o advogado de Wander, Jordan Estes, por e-mail. “Estamos ansiosos para esclarecer os fatos.”
Jay Clayton, procurador dos Estados Unidos para o Distrito Sul de Nova York, cujo escritório está processando o caso, disse em comunicado: “Quando empresas financeiras mentem para seus credores, elas não estão apenas quebrandos contratos. Elas minam a integridade e a estabilidade de nossos mercados de crédito e nosso sistema financeiro de forma mais ampla.”
Muitos dos detalhes publicados na denúncia refletem as alegações apresentadas em uma ação movida em maio do ano passado pela Leadenhall Capital Partners, uma empresa de gestão de ativos com sede em Londres, que alegou que a 777 fez declarações falsas para garantir US$ 600 milhões (R$ 3,3 bilhões) em financiamento.
Foi uma queda rápida para Wander, que no outono de 2023 anunciou ao Financial Times que era o investidor mais significativo que a indústria multibilionária do futebol já havia visto. “Existe alguém no mundo que tenha levado mais a sério a compra de clubes de futebol na história do que Josh Wander?”, disse Wander na época.
Quando o verdadeiro estado financeiro de sua empresa foi descoberto, vários times que a empresa possuía diretamente, e outros a quem devia dinheiro, ficaram expostos.
Seu portfólio incluía participações em times na Austrália, Brasil, Bélgica, França e Alemanha, com quase todos enfrentando dificuldades de folha de pagamento durante a gestão da empresa. Alguns dos times mudaram de mãos desde então, enquanto o futuro dos outros permanece incerto. O maior credor da 777 —a A-Cap, proprietária de diversas seguradoras— assumiu o controle dos ativos esportivos.
Enquanto estava em alta, Wander fazia questão de estar presente nos eventos de futebol mais importantes, fotografado ao lado das figuras mais notáveis da indústria. Ele até conseguiu garantir um assento no conselho de um grupo reservado para os clubes mais poderosos do futebol europeu.
Wander e Pasko, veteranos de Wall Street, não seriam vistos como investidores típicos de times esportivos quando iniciaram a 777 Partners em 2015. Na época, os principais investimentos da empresa estavam relacionados a acordos estruturados, um setor obscuro no qual os beneficiários de anuidades de longo prazo, normalmente resultantes de pedidos de indenização, as resgatam por quantias únicas em dinheiro.
O investimento no futebol europeu começou com uma participação minoritária no Sevilla, um dos principais clubes da Espanha. Esse investimento é agora objeto de um processo separado no país. No ano passado, as autoridades brasileiras foram forçadas a intervir e suspender a propriedade da 777 no Vasco da Gama, um dos times mais históricos do Rio de Janeiro. Na Itália, o Genoa, com mais de 130 anos de existência, também enfrenta dificuldades de propriedade após ter sido vendido a um empresário romeno.
Wander fazia parte de um grupo maior de empresários americanos que buscavam lucrar com a indústria do futebol, garantindo direitos sobre vários times de uma só vez, uma prática agora generalizada conhecida como propriedade multiclube. Grupos de torcedores argumentaram que a estrutura de propriedade causou danos a vários times. Apenas este ano, um investidor americano foi acusado de fraude na Bélgica, e outro foi forçado a renunciar ao controle de um dos maiores times da França.
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